Pedras
Por onde andei, busquei sem saber;
Fiquei onde não via, mas avancei,
Como quem segue sem destino a ver,
Na trilha incerta onde a vida errei.
O medo vem, invade o meu andar,
Corta-me os passos, faz-me vacilar.
Pausar não é ruim, mas é atraso vil,
E as pedras, do passado, lá sutil.
Por que, então, deixei-as para trás?
Se são minhas, por que não me seguem mais?
E aquelas que em meus pés tropeçam,
Serão do hoje, ou sombras que regressam?
Pedras iguais, que a vida me legou,
Se me abandonam, ou se aqui estou
A tentar distinguir a dor passada
Daquela que ainda me é reservada.
Oh, destino cruel! Que jogo é esse,
Onde tropeço, pauso, erro, careço?
Será que eu devia, será que ousaria,
Deixar a pedra que ali me espreitava fria?
E se, ao final, ao passar de tudo,
Tivesse a mesma pedra, o mesmo susto?
O destino, cruel arteiro, sorriria,
Atirando em meu rosto a ironia fria.
Sigo, pois, este andar sem direção,
Prometo, tento, faço uma oração,
Mas será que livre poderei um dia
Caminhar sem a pedra, em paz, sem agonia?
Quem sabe o destino, em sua arte sagaz,
Deixe-me enfim andar, sem olhar para trás.
E, se as pedras não mais quiserem me seguir,
Um pouco mais livre, poderei prosseguir.