TODOS OS FUTUROS
Um dia virá
em que estaremos
fora de alcance.
Estaremos fora de alcance
das fomes do corpo
e dos desertos da alma.
Estaremos além
da incerteza da estrada
e do prometido aconchego
de todas as chegadas.
Não mais a feiura do mundo
nem tampouco sua beleza.
Nem a dor contida
nem o riso solto.
Ao segredo mais remoto,
à mais íntima confissão,
a tudo estaremos
fora de alcance.
Nunca mais
o abraço do amigo
nem a faca de dois gumes
de qualquer inimigo.
Desaparecerão,
fora de nosso alcance,
o respirar lento do companheiro
no silêncio das noites brancas;
o burburinho da cidade
a penetrar nossas manhãs
por vezes frias,
por vezes mornas.
Tudo nos será alheio,
longinquamente,
naquela mansão sem endereço,
naquela porta sem horizonte.