NORDESTINA SERTANEJA DE OUTRORA
Ela nasceu lá longe,
No longínquo sertão.
Numa época diferente,
Que era proibido sua opinião.
Ao nascer, sua mãe, faleceu.
E uma tia a acolheu, com amor.
A vida não foi fácil,
Desde de que aqui chegou.
Mulher de traços fortes,
Nada temia, e com razão.
Pois quem nasce lá na seca,
Precisa de força para superação.
O sol toma conta,
E faz rachar o chão.
A água some,
Sem nenhuma hesitação.
A poeira tudo cobre,
E se faz impregnar,
E ela desde criança,
Tinha que contra isso lutar.
Mas com sua inteligência,
E muita determinação,
Se enchia de ideias,
Em busca de solução.
Estudo não tinha nenhum,
Pois era distante para ir.
Tentou várias vezes por um,
Mas, não logrou à vontade cumprir.
Se virava como conseguia,
Tricô e queijo ela fazia.
Para dinheiro senhorear,
E suas coisinhas comprar.
E quando a chuva, enfim caía,
Era festa, até o anoitecer.
E o sertanejo sempre padecido,
Agradecia cada gota a enaltecer.
E os grãos na terra seca plantados,
Finalmente, com a chuva, vêm a florescer.
De enxada na mão, a esperança faz nascer,
E agradece, pelos bens auferidos.
Não tinha descanso, nem trégua,
Trabalhava do amanhecer,
Até o sol ao longe sumir.
Sem nunca nada exigir.
Desejava ser independente.
Aprender a ler e escrever,
E um dia se tornar gente,
Sem de homem depender.
Mas, como não tinha vez,
Assim, o matrimônio se fez.
Lhe escolheram um casamento,
Sem seu arbítrio, nem comento.
Graças ao bom Deus.
Um justo marido encontrou.
E apesar da época vivida.
Ele muito, a ela ajudou.
Ele se prestou a cozinhar,
Coisa que fazia com precisão.
E passou a admirar,
A mulher cheia de convicção.
A cada ano um filho,
Ajudada pela parteira do lugar.
Devido a precariedade,
Nem todos conseguiam perdurar.
Daquele lugar penoso, cansou.
E pela cidade grande optou.
Fez a sua palavra se impor.
E o marido, para a Capital a levou.
Nova vida, ela começou.
Cheia de esperanças e com louvor.
E finalmente, o que não teve,
Pode para as filhas dispor.
Queria que elas fossem alguém,
Professoras ou até mesmo doutor.
E sempre muito empenhada,
Ela pelo sonho de liberdade lutou.
Sempre incentivou o trabalho,
Para todos sem nada opor.
Pois achava que a dignidade,
Assim, se mostraria com ardor.
Era uma senhora de solidez,
O seu lar comandava com intrepidez.
Todos a respeitavam, não por temor,
Mas, por ser mulher de fibra e valor.
Depois que viúva ficou,
Também, não fraquejou.
E junto com a sua prole,
A vida não se fez mais mole.
Era muito apegada aos filhos,
E deles não queria largar.
Mas, a vida não deixa por menos,
E alguns partiram para casar.
Conseguiu a sua médica.
E também, os professores.
Ensinou-os o valor da ética,
E a glória da família com valores.
Uma linhagem de padrões, construiu.
Árvores em sua jornada, plantou.
Por uma filha, sua história escreveu.
Contando sua trajetória, e como tu se deu.
Partiu deixando na neta, o seu coração.
As suas ideias, de luta e superação.
Um mundo novo, de muita emoção.
Em que ela poderia implantar sua convicção.