Entardecer

Eu não tenho medo da morte.

Eu não acredito nessa morte morrida

Do tipo que é o fim.

Mas confesso que fico apreensiva

Pelo que ainda há de vir.

Não que eu tema envelhecer...

Não sou do tipo preocupada

Com as mudanças do corpo

Nem que fica admirada

Com as rugas da caminhada.

O que me preocupa é o silêncio.

O silêncio da casa vazia

E de cada novo entardecer

Que é bonito na poesia

Mas que quando se torna rotina

Descortina o verdadeiro em nosso ser.

O encontro que a gente adia tanto

Insiste tanto em acontecer

É a gente com a gente mesmo

E a gente tem que crescer.

Envelhecer é ir em busca de si.

A vida leva um a um

Todos precisam seguir.

A gente vai ficando

E tem que aprender com o silêncio

Que insiste em nos mostrar

Aquilo que é real.

Ainda que tenhamos

Vivido de ilusão

E mascarado sentimentos,

vivências e relações.

Diante de tanta despedida,

De tanta ausência,

De tanta partida,

Os encontros vão ficando

Cada vez mais escassos

Muito mais partidas

Do que chegadas.

E ainda que bons encontros

Estejam em nossa caminhada

Há o silêncio a nos acompanhar

Que só não será incômodo

Se formos capazes de nos abrir

Ao maior de todos os encontros:

O da gente idealizada

Com a gente real

E isso só é simples

Quando no papel

Porque na realidade

pode comprometer nossa sanidade.

Se a gente não souber viver

Esse silêncio pode ser de endoidecer

Por isso temos que nos preparar

Para o nosso próprio entardecer.

Muita Paz!

Roberta Olmo