Pela vidraça da janela...
Pela vidraça da janela...
Pela vidraça da janela, vejo pessoas trocando passos sem sentido,
buscando talvez o encantamento perdido ou sopros de felicidade,
coisas que se perderam ao longo da idade, de vidas levadas em vão,
sem saber que a verdadeira emoção também pode estar escondida
em pequenos gestos, sorrisos sinceros e amores de verdade...
Pela vidraça da janela, vejo pessoas levando sacolas cheias de sonhos,
compras feitas talvez sem necessidade, coisas para satisfazer sua
vaidade, como se fossem remédio para os dias de solidão,
sem saber que o consumismo pode nos levar ao abismo e piorar
ainda mais a sua já frágil condição...
Pela vidraça da janela, vejo pessoas solitárias, levando seus animais
de estimação, para passeios matinais, retratos dos desencontros reais
que ocorrem entre os seres humanos, já que ninguém tem o plano
de terminar seus dias sozinho, mas só lhe restou esse caminho, por
não saber que lá atrás, um perdão ou uma chance a mais poderia
ter mudado seu destino...
Pela vidraça da janela, vejo carros apressados cruzando as avenidas
movimentadas, na corrida desenfreada da busca do vil metal, todos
afetados pelo mal da falta de paciência, do stress que leva à demência
de brigas por espaços comuns, loucos tirando a vida de alguns, mesmo
sabendo que o fim de todos é igual, que ninguém é melhor que ninguém,
que a razão só pertence a quem ama, respeita e não faz o mal...
pela vidraça da janela, vejo a vida passar a galope, em saltos de dias
e semanas, vejo que o tempo é como uma traça, que vai devorando quem
passa, quem fica e quem espera, que tudo o que vejo através da janela
é o retrato de um novo mundo, onde o tempo é contado em segundos
mas que ninguém mais sabe como o controla e quando a mesmice nos assola,
precisamos fazer um pacto com ela, não só para sabermos olhar pela janela,
mas para entendermos que saber viver a vida é algo muito mais profundo...
Adilson R. Peppes.