Insucesso
O toque amistoso nos ombros vem no melhor momento,
Quando a ponta da caneta escorrega pela folha
E procura a veia mais à mostra no braço de quem a carrega.
Salvo pela percussão manual, volta a escrever as letras tortas
As frases soltas que se conectam graças as sinapses cansadas
Que trabalham em horário dobrado
Para compensar as outras tantas
Que não funcionam mais.
Pensa que descobriu o ouro, mas não conta para ninguém
Pois a fragrância do sucesso se sente de longe
E alertá-lo é apenas clamar por atenção,
Por elogios,
Por olhares esguios,
Que buscam mais do que a honesta congratulação.
Mentir é pecado, mesmo quando para si mesmo
Mesmo quando a única vítima é a que fala olhando ao espelho
E concordando com cada palavra que está ouvindo.
Ninguém veio. Ninguém virá.
Não há ninguém saindo.
O ranger da porta é motivada pelo vento,
Os estalos são os móveis,
É em outra casa que estão rindo.
Aqui só há você.
Você, e muitas perguntas
Um número exponencial de respostas inventadas;
Permutas insatisfatórias
Entre lágrimas enxutas e testes de oratória
Onde diz a si mesmo tudo o que queria ouvir
E chora sem nem entender a razão.
Mas a culpa é sua, afinal
Esperar que te entreguem de bandeja,
O que você já serviu com tanto dispor.
E talvez,
Só o fez como troca de favor,
Pensando que o escambo com outros seria mais eficiente,
Do que convencer a si mesmo
De um produto que já possui.
Então faz para todos o que ninguém faz para você:
Liga.
E explica,
Mostra, convence, aguarda,
Se frustra, se agiganta e se acovarda.
Pega a caneta pela última vez
Escreve as últimas palavras,
Até que um amistoso toque no ombro
Chega no momento certo
Para dar continuidade
Ao purgatório
Do insucesso.