O súbito
Que fazer com o súbito que nos arranca a vida nas esquinas?
Que nos transforma em saudade sem um pingo de respeito aos nossos planos?
O que fazer do súbito que nos afasta das possibilidades e nos desvia do caminho já traçado?
Que debocha do arbítrio e das ambições que trazemos conosco?
O súbito que nos surpreende, que nos arrasta, que nos exige, que nos subtrai, que nos apavora, que nos humilha e nos mostra a completa falta de controle que acreditamos ter sobre tudo.
O súbito nos apresenta a miragem que é a vida. Nos conduz a seu bel prazer.
E nos abre portas que preferíamos manter trancadas para sempre.
Portas que jamais cogitamos abrir.
Portas que dão para nosso vazio interior e que precisaremos encher de quinquilharias outra vez.
Novas quinquilharias, que antes não caberiam e que a partir de agora deverão, irremediavelmente, caber.
O súbito é radical. Faz o trabalho que não ousaríamos por arbítrio.
O súbito é o senhor de tudo. Está na esquina. Espreitando.
Oremos!