A ÚLTIMA VIAGEM (carta ao meu amor)

Meu amado, bom dia!

Favor atender às minhas recomendações.

Nesse dia que surge, iluminado pelo sol,

me prepara para o baile final.

Prepara meu leito, como tantas vezes fizeste.

De madeira, com rusticidade suave,

entalhado por artesãos pernambucanos.

Escolhe as vestes, de preferência,

feitas pelas mãos das rendeiras de Poção.

Leve, quase sensual, uma camisola apenas,

nada mais.

Em tempos de jasmins, cobre o meu corpo de perfume.

Que sejam convidados para o baile aqueles que amo

e que tanto me amaram…

Lembra também daqueles que passaram por minha vida,

pacientes, alunos, malabaristas, mendigos, revolucionários,

loucos e santos.

Todos com licença para ausência e faltas abonadas.

No salão de festa, na verde floresta de Santo Amaro,

transforma o silêncio com tua voz de tenor.

Suave e apaixonada.

Que não falte o bom forró, nas vozes dos filhos e netos.

Dancem todos como bruxos e bruxas, entre as árvores,

sorrindo as lembranças dos tempos vividos.

Que a alegria do baile anuncie um novo começo.

À natureza me entrego para a transformação da vida.

Depois da cerimônia, proponho um jantar,

na casa que um dia foi minha.

Um brinde à vida no momento da partilha.

Aos netos deixo o Álbum memórias de uma avó,

que me foi presenteado pela minha amiga,

Magnólia Cavalcanti e os escritos Eu viajante.

Aos filhos, poesias e a certeza de ter sido uma mãe,

quase perfeita.

Que os bens materiais sejam partilhados com carinho,

se é que, já não tenham sido.

Estarei sempre em cada um de vocês.

À minha mãe agradeço pelo que sou.

Ao meu pai minhas desculpas por não ter entendido,

suas fragilidades.

E a você, amado meu, se ainda vives, me encontrarás

nas árvores, nas flores amarelas e na brisa do mar.

Fátima Souza
Enviado por Fátima Souza em 08/09/2024
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