Julgamento
É mais fácil lamentar-se pelas oportunidades que passaram voando,
Do que medicar os sintomas que vem se apresentando
A cada vez que seu coração bate com mais força do que é necessário.
Quando os pulmões enchem e ardem,
E o sopro da liberdade raspa na garganta
Modificando para sempre as cantorias
Que antes usávamos para espantar os males
E hoje são prenúncios destes.
O meu silêncio acaba falando mais palavras do que eu efetivamente conheço,
Assim como um golpe do meu olhar faz com que os errados estremeçam.
E talvez, por isso, olho para espelhos com o canto dos olhos
Conversando a esmo com a figura que me observa sem pronunciar-se.
Estabelecendo relações cordiais com os colapsos repetidos
Que me fazem trocar de trajetória a qualquer hora,
A qualquer dia.
Diplomacia das mentes forjadas pela insuficiência,
Onde juízes carregam seus martelos;
As pombas, os seus farelos,
Restando aos torpes
A iminência
Do castigo.
Da mesma mão que anota as sentenças,
Sai o aceno de boas vindas
O cumprimento de sua chegada
E o cumprimento de suas penas.
Sai também o anúncio de sua partida,
Acena a despedida,
Despedindo a cena, os colaboradores, os cenógrafos,
Os teóricos, os convidados, os transeuntes
As casas, os prédios, as ruas
O sol e a lua
O oxigênio.
Num espaço onde nada efetivamente existe
Exceto máscaras tristes e outras sorridentes
Trocando turnos, vestindo as carapuças,
Com naturezas misturadas e confusas,
Não expressando qualquer emoção,
Que não seja a inércia
Da volatilidade.
De lá, olhando do lado de fora,
O sujeito que se afoga e chora
Fugindo do próprio reflexo
Que pouco tem a lhe dizer
Mas tem muito a ensinar:
Ele absolverá teus erros,
Apagará teus medos,
Te arrancara pedaços
Até que nada sólido
Esteja a sobrar;
Para que as aves oportunistas,
Sujas e fedidas
Venham se alimentar
Dos desacertos do dia a dia,
Das gotas salgadas da agonia,
Dos farelos de entropia,
De quem foi julgado como errado,
Tardando em prevenir-se,
Restando o lamentar.