A OLHO NU

 

Saiba

que há pedregulho

e há espinhos

e lixo na sarjeta

e a lama inesperada.

 

Há o que é contrário,

o que impede,

o que desfaz.

 

Há ervas daninhas,

impurezas insuspeitadas

em águas

e em almas.

 

Veja. Ouça.

 

Há duplas palavras

a emanar

de duplas faces,

segredos de vário vulto

e longo alcance.

 

Há a bofetada,

que chega meio de surpresa.

 

Há o que você jamais suspeitaria

no armário de quem você jamais imaginaria.

 

Há o lado escuro da lua

e a sombra da vida.

 

Mas há também

o que você pode dizer

à sua imagem no espelho

dia após dia.

 

Porque há um límpido riacho,

em algum lugar,

a murmurar sobre o duro pedregulho;

e a rosa perfumada

não é menos generosa

por causa do espinho;

e palavras e pensamentos

são qual poeira ao vento.

 

E a qualquer momento

a lama na sarjeta

será como uma velha notícia,

varrida pela pródiga chuva.

 

E a sombra do caminho,

sem nem perceber,

entregará seu negrume

à carícia do sol.

 

Pois então?

Por qual fresta,

no granito do seu ser,

passará a necessária luz?

 

James Melo
Enviado por James Melo em 03/09/2024
Reeditado em 04/09/2024
Código do texto: T8143282
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