Ciclos
Há um começo que sempre se esquece,
na pressa de viver, na ânsia de chegar.
Como se o hoje fosse apenas um rastro,
do ontem que já não é,
do amanhã que ainda não é.
A vida, essa senhora de passos curtos,
nos envolve em círculos,
como uma dança que não termina,
mas se transforma,
de passo em passo, de volta em volta.
Lembranças são folhas secas no vento,
sopradas pelo tempo,
caem, dançam no ar,
até que tocam o chão,
e se misturam à terra,
prontas para renascer.
Há ciclos que nos encontram,
em esquinas de ruas vazias,
em palavras que não dissemos,
em amores que não ficaram.
Ciclos que são como ondas,
que vêm e vão,
levando e trazendo,
como a maré que nunca cessa.
É preciso saber deixar ir,
o que já não nos pertence,
o que já cumpriu seu papel.
É preciso saber esperar,
o que ainda está por vir,
o que o tempo nos prepara,
com suas mãos de silêncio.
E na volta de cada ciclo,
somos um pouco os mesmos,
um pouco diferentes,
como o sol que se esconde,
mas sempre volta a brilhar.
Assim vivemos,
nessa espiral de recomeços,
de fins que são novos começos,
de memórias que se desbotam,
e sonhos que se acendem,
num ciclo sem fim,
de ser e de não ser,
de existir e renascer.