PRISIONEIRO NA DIÁSPORA

Ah, se eu pudesse voltar?

Como gostaria de poder voltar!

Minha África, meu lugar, de onde vieram parte dos meus ancestrais.

Ah, que saudade sinto de onde nunca fui.

Como meu coração aperta de banzo.

Meu espírito sofre em Zulu, Banto, Iorubá e Nagô.

Ah, que dor, meus orixás.

Por que Oxalá não me leva para lá.

Me liberta, deste cativeiro, pois não mais aguento a escravidão deste lugar.

Daqui, não me sinto n'algum pertencimento.

A África é a minha identidade.

Um oceano me impede a travessia, de volta a minha primazia.

Sou um refém econômico do Brasil.

Ir e vir é uma fantasia do direito.

Vou morrer, algum dia, e estará enterrado este lamento.

Quem sabe renasço em África.

Realizo meu imortal desejo.

De viver na minha terra e nação, entre meu povo altivo e guerreiro.

Aqui sigo minha expiação, sobrevivendo nos sofrimentos.

Lutando contra o racismo e os diversos preconceitos.

O Brasil é o inferno do povo preto, uma maldição europeia.

Terra das reconquistas determinadas por Tupã.

Lugar a ser retomado por seus povos originários.

A África é a minha mãe.

Do Mediterrâneo ao Cabo da Boa Esperança.

Do oceano Atlântico ao oceano Índico.

Quero subir o Kilimanjaro, nadar no Lago Vitória, correr pelas savanas, descansar sob as brisas da Cidade do Cabo.

Ah! A bela Luanda d'Angola.

Meu combatente Mozambique.

Velejar entre as Ilhas de Cabo Verde.

Conhecer os mistérios do Egito.

Etiópia, que não se deixou colonizar, seu povo resistiu a ser escravizado.

Joanesburgo, com Mandela, África do Sul, venceu os boeres.

África tem Magreb, tem mouros.

Esses povos já conquistaram o sul da Europa.

Moçarabe também sou, do Marrocos, da Líbia, da Argélia e da Tunísia.

O Saara nunca foi o que a África divide.

Ah! Se à África pudesse voltar?

Como seria se meus ancestrais nunca tivessem sido arrancados de lá?

Talvez, no Brasil, não tivesse todo esse lamento.

Marco Paulo Valeriano de Brito
Enviado por Marco Paulo Valeriano de Brito em 22/08/2024
Código do texto: T8134759
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