“Apenas seja você mesmo”
“Apenas seja você mesmo.”
Ser eu mesmo? Mas eu não sei ser eu mesmo.
Ser os outros também não posso.
E ninguém poderia me ensinar a ser eu mesmo,
Pois se pudessem me ensinar, seriam eu;
E se eu pudesse aprender a ser eu mesmo pelo que os outros dizem que sou,
Não seria eu que estaria aprendendo a ser-me.
Sou eu que devo descobrir como ser eu mesmo:
Eis uma jornada inteiramente minha e sem possibilidade de qualquer ajuda.
Mas ser eu mesmo me causa tédio,
Semelhante ao tédio dos loucos que são sempre a si mesmos.
Todos os sãos são sempre outra pessoa.
Todos os sãos são sempre algo que não são.
Ninguém quer se transmitir como o idiota que é,
Ninguém quer contar aos outros os fracassos que lhe moldaram,
Contam os sucessos, mas os sucessos não moldam ninguém.
Quando contam algo, são sempre os vencedores,
São sempre os que nunca sofreram um abandono por desdém e desprezo indiferente.
Se foram abandonados, foi uma epopeia de reviravoltas e maravilhas desconcertantes,
Se foram menosprezados, sempre foi uma história romanceada.
São todos sucedidos, inclusive nos fracassos.
Ninguém quer ser a si mesmo, mas todos dizem que devemos ser nós mesmos.
Não quero ser ninguém,
E mesmo se eu quisesse ser ninguém,
O fato de querer já me faria alguém.
Querer ser eu mesmo — que fútil desesperação!
Ser a si mesmo não é querer, mas ser;
Ser a si mesmo, sem por nenhum propósito ou plano,
Pois se se quer algo, esse algo é uma coisa que ainda não é,
O fato de não ser significa que não é.
Sim, ser é ser o que é.
Sem mais nem menos, sem maiores explicações,
Sem teorias complexas, sem labirintos de enigmas,
Sem matemáticas místicas, tabuadas de estrelas,
Sem um motivo cósmico que diga por que ser.
Sem drama chorado de crises existenciais,
Sem qualquer coisa adicionada que não seja o que já é, o que foi e o que continuará sendo.
Ser eu mesmo, simplesmente sendo, mesmo sem saber o que cargas d’água isto signifique.