Fingir de morto
Deito na cama de olhos abertos
E prendo o ar
E fico assim sem respirar pela pequena eternidade que aguento
Nenhum pensamento me toma
cabeça vazia
Nada, suspenso na vida e nada
Me desce de novo para mim mesmo
Nada me lembra que eu sou eu e tenho tais e tais pensamentos, formas e roupas
De olhos abertos como se fosse um morto
Eu olho pro abismo onde não tenho um rosto
Uma época, um pai ou uma mãe
Nem uma lingua falada pelos humanos
É só o presente e o agora que estão lá
Me sufocando
E quando me sinto finalmente uníssono
Com todo o universo sem sentido e oco
Meu corpo começa a ceder e se desesperar
E meu rosto fica vermelho
E meu sangue corre rápido e fervendo
Irritado comigo mesmo
Meu corpo me força a voltar à vida
E ao quotidiano
Descuidado e malicioso
Onde tenho um nome, um endereço e uma bebida favorita
Eu respiro fundo
Deixando todas as coisas que eu sabia
Voltarem pro meu coração
9.8.24