Fingir de morto

Deito na cama de olhos abertos

E prendo o ar

E fico assim sem respirar pela pequena eternidade que aguento

Nenhum pensamento me toma

cabeça vazia

Nada, suspenso na vida e nada

Me desce de novo para mim mesmo

Nada me lembra que eu sou eu e tenho tais e tais pensamentos, formas e roupas

De olhos abertos como se fosse um morto

Eu olho pro abismo onde não tenho um rosto

Uma época, um pai ou uma mãe

Nem uma lingua falada pelos humanos

É só o presente e o agora que estão lá

Me sufocando

E quando me sinto finalmente uníssono

Com todo o universo sem sentido e oco

Meu corpo começa a ceder e se desesperar

E meu rosto fica vermelho

E meu sangue corre rápido e fervendo

Irritado comigo mesmo

Meu corpo me força a voltar à vida

E ao quotidiano

Descuidado e malicioso

Onde tenho um nome, um endereço e uma bebida favorita

Eu respiro fundo

Deixando todas as coisas que eu sabia

Voltarem pro meu coração

9.8.24

David Ceccon
Enviado por David Ceccon em 10/08/2024
Código do texto: T8126183
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