Depois do Amanhã
A vida?
Vi-a passar despercebida,
como um vento frio que arrepia,
Feito imagem funda de um retrato
que se esquece e só se lembra
quando perde a forma o rosto pálido
e já não há mais despedida
Sob a tutela permanente do Instante,
ela avança em um percurso sem volta,
deixando marcas de sua passagem hesitante
quase sempre apressada, por vezes sem demora
com seu andar desprevenido, de quem não tem hora
Tentei agarrá-la, inutilmente,
enquanto colhia, distraída, os vestígios d’alvorada
mas minhas mãos estremecidas, incipientes,
não contiveram a brevidade dos passos em revoada
E entre os espinhos que a retalharam, em sua fuga,
Vi-a perder os sentidos,já adormecidos,
atravessada pelo gume das desculpas
de um amanhã tardio