Velhice
E estes tempos que se vão, tão imperceptíveis.
Entre poeira, quinquilharias, um pouco de pó, um resto de mim.
Na ingenuidade daqueles dias, eu era feliz.
Não contei as horas, corri como menino, afoito de vida.
Dos muitos sonhos, criei cores que inesxitem.
A estrada criou calos, bolhas de sofrimento.
A medida era curta nestes olhos descuidados.
Num disfarce de beleza, mentiram os ponteiros.
Entre jardins e enganos, o moço se viu ancião.
Uma verdade ao menos, o velho espelho mostrou a feiúra.
E agora, como úmida parede, de mofo e desdém, quem contempla?
No quadro que insiste, há cacos, entulho, uma ruína de alicerce que faliu.
Não notei a morte dos homens, nem tão pouco, a arrogância dos meninos.
No esvair deste tempo, as flores continuam à alegrar.
Nem uma morte enfeia tanto.
As tumbas cansam de tédio.
E tudo se renova, como campos secos, na estação das águas.
E estes tempos...
João Francisco da Cruz