A Morte Do Sertão
Terra do solo rachado
E da carestia na alimentação
A única água que se tem provado
É a lágrima do povo que mora no teu chão
Terra da luta em bravata
A vida é ingrata e o suor é a lição
Onde a dor, aqui se retrata
Na pintura ou na lata, na arte de mão
Terra do povo guerreiro, do quente terreiro
Da lamentação
Onde o que veio primeiro, será o herdeiro
Desta geração
Terra do povo que não se acovarda
Nem que o fogo arda, e não sobre pão
Que não desiste e guarda
De elmo e de farda, se tiver precisão
Terra do calor que maltrata
Mão de obra barata, pobre cidadão
Onde aquele esnobe, justa o pobre
Pra fazer sua obrigação
Terra do bicho com fome
Que não tem nome nem posição
Vive na dor que o consome, pois nada ele come
Por não ter condição
Terra do canto caricato
Do miado do gato, e da aflição
Onde é pouco o trato, e não sobra rato
Pra fazer exibição
Terra do chão brasileiro
Povo hospitaleiro, que ama dar sermão
Onde o bravo guerreiro, recebe o forasteiro
Com tanta atenção
Terra do vento tão quente
Desta triste gente, de grande coração
Um povo que tudo sente, seu maior presente
É a oração
Terra do ouro e da prata
Jóia pro magnata, fazer ostentação
Que tantas vidas ele mata
Um coveiro contrata, pra fazer a escavação
Terra de gente tão grata
Mesmo sofrendo é pacata, e não faz rejeição
Onde a mulher que é mulata
É dona da gravata, que enforca a ladrão
Terra tão longa e tão chata
De bicho acrobata, de amor e atração
Onde o rio que é cascata
Faz uma longa data, que não molha este chão
Terra da vida que é exata
E por mais que ela bata, não faz demolição
Onde se planta a batata
Mas nada se cata, além de ilusão
Terra da mulher sensata
Que escreve na ata, faz ser perdição
Onde o homem burocrata
Suas ordens acata, sem fazer traição
Terra do povo abandonado
Que só é lembrado, em época de eleição
Onde o político safado
Vem bem trajado, pedindo perdão
Dizendo que no ano que vem
A água ali vem, e abraça o irmão
Mas de verdade não tem
No mundo ninguém, que ajude o sertão