Monólogo
Quanto vale a vida aos 36?
Quantas histórias podemos contar?
Com muito a dizer
Fico em silêncio
Como água corrente, só quero seguir
Não sei quanto tempo pela frente
Poucos cabelos me restam
O preço da genética
Ou a luta de dez anos de docência apaixonada
Graças a Deus, a indecência do sistema é bem hostil pra mim
Não falamos a mesma língua
Estamos em locais diferentes
Não me resigno
Sempre desobedeço alguns ritos com a força de um rebelde com causa
Nesse caminho ermo tento modificar meu interesse por velhos venenos
Sem filosofia fixa
Ao sabor do vento
Nem cicuta, tampouco cálice com vinho no altar
Prefiro o café antes do trabalho
Sentir a frieza e o calor da desigualdade pulsando nas ruas
Não olho muito pro céu com olhos piedosos
A vida é o milagre que me interessa
Sem preces, prazos e joelho no chão
Minha pupila olha no olho
Aperto as mãos
Ouço o cotidiano simples
Faço disso minha religião
Gosto da invenção imperfeita de Deus
Odeio a fome
Odeio a gula dos poderosos
Vivo sem seguir os conselhos dos próximos
Sinto seus canhões inquisitórios direcionados a meu peito
Querem meu bem
Me fazem sangrar
A despeito, sigo
Insisto no direito de seguir meu próprio caminho
E aos 34, de fato, não sei de nada
Só quero criar raízes
Semear sonhos
Cuidar dos meus frutos com todo amor que existe em mim por eles
Essa é a herança possível para um homem comum
E não há melhor legado
Quando a conta fechar eu apenas quero deixar lembranças que nenhum dinheiro pode pagar
E se isso tudo merecer uma segunda chance?
Minhas velas estarão içadas
O caminho do sol irei seguir
Por enquanto fico por aqui
Tudo é imperfeitamente divino nessa divina comédia humana
E isso me faz sorrir