Sapatos.

Assim como uma rosa

Que um dia no passado foi vermelha

Uma casa que se avizinhava à sua

Quando, todo dia, você saiu pra brincar naquela rua

Uma luz que entrava pela fresta da janela

Num tempo em que amanhecia, ainda

E o Sol te desejava ver feliz no novo dia

A rosa perdia uma pétala

A casa uma telha

A rua uma pessoa amiga

Dia a dia, devagar, quem liga?

Até que um dia, doa

E a luz do sol sorria à toa

Segue a vida

Mantenha o passo, o riso

Não permita que a tristeza ocupe

O mesmo espaço na sua vida

Aquela que transforma a casa em coisa fria

Que torna a rua deserta

E noites de lua cheia te pareçam meio vazias

Que minha cara envelheça no espelho

E que seja só isso

No jogo da vida

Não existe um compromisso de vencê-la

Porque a vida é feita de tempo

E quem briga contra o tempo é tolo

As ruas se esvaziam, pessoas se vão

Pétalas viçosas de acinzentam

Nós passamos pela vida e só

E que seja só isso

Pouco importa meus sapatos cheguem lá surrados

O lado escolhido da rua

Os passos...quantos passos

Isso importa muito mais

Que esse meu jeito torto de pisar

Quem precisa?

Importa muito mais onde se pisa

Nessa altura da minha vida

A sola dos sapatos gastos

Totalmente lisa

Mas eu chego aqui contente

A parte que me cabia

Era jamais pisar ninguém

Sim, meus velhos sapatos

Estão quase no fim da estrada

Mas eu posso andar descalço

E abraçar sem medo

Meu Divino Sapateiro

Que brincou comigo, quando eu fui menino

E, criança, não deixei de ser jamais

Eis o segredo da vida

Olhar minha cara no espelho

E sentir-me em paz.

Edson Ricardo Paiva.