VIDRO

As lágrimas dos vidros são a chuva

Tilintando nos vitrais, levemente ensurdecidas

Pelo isolamento do vidro, escorrem desoladas

Efêmeras e sozinhas, as águas desalmadas

Do vidro molhado trazem cheiro às nossas vidas

Você me protege do frio forte que uiva

Arte transparente, esquecida

Que nasce fervente e perigoso, puro fogo

Frágil e efêmero, como a minha vida:

Que queima e que quebra de novo

Quanto mais se parte, mais é dividida

Agora seus olhos estão em tudo e todos

Vitrais, mosaicos, comuns, temperados

Cada tipo foi feito com todo o cuidado

O vidro não admite negligências

Se distraiu, haverá consequências

O estridente som de vidro quebrando

É um som de alerta seguido de um comando:

"Cuidado com o vidro" e deve ser obedecido

Reflexo reflexivo, instintivo

Reflete e nele me vejo refletido

Com o sol, ele brilha um brilho incisivo

Em prisma, nasce um arco-íris perdido

Nos mosaicos, feixes luzem coloridos

Na extensa ótica multifacetada

Da sala de espelhos não há nada

Além de todos os pontos de vista

E essa precisão que te conquista

É também a frieza crua do acidente

Que rompe as artérias do sangue quente

As gotas de sangue refletem no espelho

No vidro, apenas pinta de vermelho

O vidro não reflete e nem sempre é perceptível

Cuidado pra não dar de cara com a parede invisível

Noite longa e fria, apenas o uivo vindo

Da ventania alta lutando contra o vidro

- Eu não te vejo e você não me vê

É uma brincadeira de se esconder?

Natalia L A
Enviado por Natalia L A em 13/07/2024
Código do texto: T8105851
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