VIDRO
As lágrimas dos vidros são a chuva
Tilintando nos vitrais, levemente ensurdecidas
Pelo isolamento do vidro, escorrem desoladas
Efêmeras e sozinhas, as águas desalmadas
Do vidro molhado trazem cheiro às nossas vidas
Você me protege do frio forte que uiva
Arte transparente, esquecida
Que nasce fervente e perigoso, puro fogo
Frágil e efêmero, como a minha vida:
Que queima e que quebra de novo
Quanto mais se parte, mais é dividida
Agora seus olhos estão em tudo e todos
Vitrais, mosaicos, comuns, temperados
Cada tipo foi feito com todo o cuidado
O vidro não admite negligências
Se distraiu, haverá consequências
O estridente som de vidro quebrando
É um som de alerta seguido de um comando:
"Cuidado com o vidro" e deve ser obedecido
Reflexo reflexivo, instintivo
Reflete e nele me vejo refletido
Com o sol, ele brilha um brilho incisivo
Em prisma, nasce um arco-íris perdido
Nos mosaicos, feixes luzem coloridos
Na extensa ótica multifacetada
Da sala de espelhos não há nada
Além de todos os pontos de vista
E essa precisão que te conquista
É também a frieza crua do acidente
Que rompe as artérias do sangue quente
As gotas de sangue refletem no espelho
No vidro, apenas pinta de vermelho
O vidro não reflete e nem sempre é perceptível
Cuidado pra não dar de cara com a parede invisível
Noite longa e fria, apenas o uivo vindo
Da ventania alta lutando contra o vidro
- Eu não te vejo e você não me vê
É uma brincadeira de se esconder?