Autobiografia
Qual página foi rasgada?
Começamos com uma indagação
Um crime gráfico
Um autorretrato
Passível de condenação
Continuo segurando a barra da vida
Sempre com esperança de tudo entender
Me preocupo com minha concepção
A respeito de uma possível autobiografia
Por isso, vivo, antes mesmo de escrever
Sei que são os mesmos atores
Só que o cenário passa por diversas transformações
Sigo relendo, ralando, revendo
Rindo, respirando
Retendo qualquer forma de apequenar os capítulos da vida
Como um discípulo de um profeta antiquíssimo
Esqusitamente, fiel a velhos princípios caducos
Vestindo preto e branco
Sentado no banco de uma praça vazia a contemplar o narcisismo dos muros e portões fechados
Casas cheias de vazios
Lugares frios
Espanto-me com os projetos longínquos
E autores temporários
Aqui sempre estamos
Tudo é frágil
Plástico e sem conteúdo
O desnudo veste o mundo
E o mundo segue cada vez mais frio
Ainda não encontrei a página rasgada
Em qual lixeiro as linhas tortas fizeram morada ?
Mas, isso não me tolhe mais
A vida não é um roteiro
Nem um rock fulgaz
O bom é esse tempero
Somos uma mistura de barco, rio, canteiro e cais
A página foi encontrada
Lida, refletida e amassada
Seu conteúdo não vale uma noite te preocupação
A vida é agora
Não se preocupe com o que perdeu
Todos de alguma forma
Seguem uma espécie de contramão
Não vá perder os dias
Não sabemos se haverá outra estação