Ar e água

já fui habitante do reino do ar

fui convidado a fazer parte dele

por pessoas similares a mim

porém portadoras de penas e asas

e aceitei de bom grado

enchi-me de satisfação e felicidade

ao voar junto com eles

mas ao veicular minhas palavras

para eles, elas não significaram nada

eram apenas massas de ar

tão invisíveis quanto o ar que populamos

no fim, acabei tornando-se tão invisível e incolor

quanto ele

o desgosto me afundou, tirou-me

penas e asas, passaporte para continuar

vivendo neste reino de ar

joguei-me ao mar

fui recebido por pessoas como eu

porém com escamas, guelras e barbatanas

elas queriam me conhecer, saber o que

eu tinha a dizer, e com muita resistência

falei minhas primeiras palavras debaixo d'água

cuidadosamente carregadas por bolhas

conduzindo-as até aqueles que queriam me ouvir

acolhedores do reino onde eu definitivamente

passei a morar desde então

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 06/07/2024
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