Novela da existência
Os dias chegam e se vão,
As pessoas olham da ponte,
As vidas de outros a quem assistem,
Novelas das quais escrevem roteiros,
Conduzindo a direção de uma utopia,
Cenários e iluminação idealizadas,
Em suas imaginações de personagens,
O que seriam naquelas vidas alheias,
Casas, carros e roupas que teriam,
Geografias para onde viajariam,
Diálogos decorados de enredos fantasia,
Famílias de comercial de margarina,
Felicidade enlatada de séries dos anos 50',
Ilusão formativa em curtas trajetórias,
Adversas ao que há em cada um,
Existências de almas confusas,
Quando a vida revela outros extratos,
Como filmes em P&B sem a cor da TV,
Onde ilhas de solidão corroem na maresia,
As ventanias balançando as palmeiras,
Terremotos de ansiedade e angústia,
As chuvas choram as lágrimas externas,
E indagações ressoam no horizonte:
Para onde vão as dores sufocadas?
Onde estão as palavras não ditas?
O que viram os sonhos não realizados?
Porque sorrisos se armam na tristeza?
Como encarar o reflexo no espelho?
Tentam ver só o que desejam no âmago,
Esconder os conhecidos fantasmas,
Dissolver as memórias da difícil existência,
Esperando diferentes finais nas histórias,
Talvez beijos, abraços e um para sempre,
Para voltarem às jornadas de fingimento,
Seguindo as dramatizações cotidianas,
Mantendo a esperança de serem a ficção,
Esperando a cena terminar no palco,
As cortinas se fecharem ao público,
Para sair do que não aceitam como vida,
O gato que dorme e sonha que é humano,
Mas quando acorda não sabe se é um humano sonhando que é um gato,
Cada qual querendo ser o que não é,
Triste sina de uma humanidade perdida...