O meu Eu se libertar
Na ausência de palavras certas
Eu me escondi entre as margens do pensar
Onde eu estava segura, coberta
Mas não podia protestar
Em todo o canto que eu ia
O bom senso repetia:
" uma menina esperta, sabe quando se calar"
" ouça e aprenda"
" Entenda, qual é o seu lugar"
Tantas vezes quis gritar com a consciência
E do mundo discordar
Mas a falsa aparência
Nunca me deixou, sequer tentar
Tantas vezes quis seguir outro caminho
Deixar o conforto do ninho
E no céu me aventurar
Mas a voz do julgamento
Sempre foi mais alta para me ofuscar
Me puxando aqui pra dentro
Cativa em pensamento
Me impedindo de arriscar
Tantas vezes eu concordei sem ter motivo
E aprendi a disfarçar
Achando que tinha muito tempo
Eu me isolei no fundo de um sorriso
Com a garganta prestes a engasgar
Em pouco tempo, matei os sonhos
E a vontade de falar
Sepultei em versos tristes
Versões de mim que não existem
Ou nunca puderam se revelar
Mas ainda assim, se recusavam
A me abandonar
Em pouco tempo
Eu me tornei invisível e muda
Até um pouco surda
Incapaz de me escutar
Então algo aconteu
Bastou eu trocar as lentes
Encarar meu próprio eu
Quando estava longe o suficiente para me importar
Eu vi o fecho da corrente
Inconscientemente, me sufocar
Comecei a imaginar coisas estranhas
E ouvi uma voz que emergia
De dentro das minhas entranhas
Sutilmente sussurrar
Uma batida na porta, insistente
Querendo desesperadamente, entrar
Uma força imponente
Que me obrigou a relembrar
Aquela velha fagulha esquecida
Que curiosamente, apesar da dor vida
Nunca quis se apagar
Ardia em chama e som
No fundo da minha alma
Esperando pacientemente
O meu eu se libertar