Longe estava o tempo
Longe estava o tempo
Quando procurava
Curare para as
Pontas das flechas
Todos do povo
Morreram
Só tinha na
Língua de
Sua gente
Seu único
Falante
Já tinha
Gravado
Sua voz
Falando o
Hutá
E dizendo
Tudo podia
Dizer
Já chorou
Por todas
As lágrimas
Ouvindo a
Gravação
Agora no
Espelho
Conversava
Na língua mãe
Com o cocá colorido de
Penas de araras
Sabia o
Mundo já
Ia se acabar
Depois de falar
Consigo mesmo
Pelo espelho
Ninguém mais
Falaria aquela
Língua
Emudeceu
Sua voz
E com ela
A voz de todo
Um povo
Um mundo de
Vida e falação
O mundo acabou.
Rodison Roberto Santos
São Paulo, 05 de junho de 2024