Meu trilhar sem medida
A vida fora da escrita é muito chata
Enfadonha, com muita realidade
Me permito assumir meublado fingidor
Onde minto que nem sinto sem rubor
E o tal do dinheiro?
Trem ruim demais, sô!
Que, talvez, por vergonha,
Esteja sumindo da praça
Já se vestira de moeda
Se disfarçou em papel então
Quando todo mundo sabia
Que ele era e sempre foi moeda
Virou um tal de cartão
Com dois irmãos gêmeos
Que não qual o pior e mais traíra:
O crédito ou o débito
Mas todo mundo sabia
Era mais um disfarce de tal do dinheiro
E, por último, esse tal de pix
Que eu jamais fiz por disfarçar
Que esse se dá de facin
Mas é pior de todos
Quando ocê vai ver num tem nada lá no banco
Dá vontade mesmo é de guardar
No colchão, mas guardar o quê
Se ele nem mais existe
Tá faltando tudo
Tá sobrando e os inteligentes
E poderosos vendo armas pra comprar água
Matam pra ganhar não sei o quê
E depois o louco sou eu
Como assim se nem a tentação de rasgar
Dinheiro tem mais
Eu lá vou rasgar o que não existe?
Eu vou mesmo é voltar
E cuidar dos sonhos
Que se a gente não cuida
Até isso os poderosos estão roubando
Ostro dia eu vi uma porção de criança
Família, gente de tida a idade
Fazendo dila na porta da delegacia
Pra fazer boletim por roubo de sonhos
Não sei bem se era roubo ou furto
Mas só que tinha muito choro
Lágrima, cara feia e gente maltratada
Porque não absolutamente nada
Nem sonho
É, meu amigo, a vida fora da escrita
Não vale nada mesmo
E eu vou parando
Porque esse galho de árvore que é
Meu lápis não encontra nem mais areia
Pra desenhar letra
O negócio é mesmo cuidar do que resta
Mas é melhor nem contar
Porque se já tão levando sonhos embora
Imagina o desespero
Quando voltarem a furtar pensamentos
Aí desgraçou tudo
Vamo tocar em frente
Como diria o poeta do Pantanal
Nem ele conseguiu se livrar
O povo da cidade não quer nem saber
De fonte, de água, de mata, de mato
E nem sente que mata
É doideira demais esse mundo, si minino
Eu pensei que era dinheiro
Que eles queria juntar
Era não... é um parente próximo dele
Ouvi dizer ali num encontro de esquina
É um tal de poder que eles quer até morrer
Como eu num entendo
Vivo aqui na minha caixinha
Tô mais rico que Diógenes
Me disse um ricão desses um dia
Ele deve entender
Eu só sei mesmo
E digo mais uma vez
Que vou ficar quieto no meu canto
Pra minha escrita não morrer
Porque é ela que conversa com
Meus pensamento
E é ela que mantém vivo
Meu sonho de nunca mais me vender
Não dá pra ter muita coisa
Mas lá no tempo da palavra
Não tinha preto no branco
Ou branco no preto
Que valesse mais que ela
O tempo bão que não volta mais
É, meu recanto, só tu pra me salvar
Desse mundo onde os loucos
Chamam os sãos de loucos
Mas quem são os sãos e quem sãos os loucos?
A gente tem é que fazer como Ele
Que não tinha nem um travesseiro
Pra recostar a cabeça
Mas eu acho que isso também
Já é muito pra minha cabeça
E dizem que Ele nem escreveu nada
E a memória curta parece que nem com a escrita deu jeito de lembrar
O que será que ele diria agora?
Só sei que ainda dá tempo de a gente
Se recuperar, eu espero, pelo menos
Cuidar dos pensamentos, nutrir sonhos
Reais, mas humanos
Porque segundo fiquei sabendo,
O Himem deixou duas lez
E de, quando em vez, na maior cara de pau
Os cara manda uma coisa e faz outra
E isso vem de longe, meu fí
Eu vou é me retirando
Antes que alguém veja essa escrita
Subversiva que só
Porque a felicidade que mata a tristeza
E ela que se a gente souber a verdade
A gente nunca tá só
A gente nasceu pra trilhar
No colo do Pai
É pra esse colo que pulo como se fora criança
Como se poesia fosse balança
E tudo pudesse se equilibrar
Disso já perdi a esperança
Mas vibro com a certeza da minha loucura
Que é bem maior que minha bravura
Que me me esconde no meu jeito de sonhar
Com um pensamento ativo que só
Para pra dormir e sonhar
Quero é saúde já que as faculdades
Me faltam... mas nas aulas da vida
Escrevem por linhas só minhas
Quem ninguém escreverá
É na unicidade da vida que eu sigo
Louco ou comum na certeza do trilhar
Obrigado, Senhor, pela escrita não vazia
Que me permite ainda viver e sonhar