Faleceu hoje,
aos trinta minutos do quase pronto pra meia noite, o amor.
Esperou demais um acontecer fidedigno às alturas.
Sentiu somente indispostas agruras. Arrimou-se em rupturas.
Nas nuances entre o sim e o não, nunca entendeu direito as tantas juras e as desconjunturas.
Faleceu 'amanhã',
por disposição pacata de um viés ao fundo de um vai-e-vém, o tempo.
Parecia marcado por algo, em chronos, um tino,
quando em função do seu fim em propósito (tic-tac), perdeu-se no alheio destino.
Nos badalos sem sons à regência verbal, nunca entendeu direito aquilo que foi, o que é o agora, e o que há de vir.
Faleceu ontem,
no anonimato da sua loucura, sem eira nem beira, na consideração do que se'spera do nada, a verdade.
Se auto-feriu de palavras bonitas em descompasso com o comportamento.
Quedou-se num desalento. Arrimou-se numa partida contando anedotas.
Na agenda dos seus compromissos - ao intento - tudo foi apagado, até mesmo o que não havia se prometido.
Faleceu entrementes,
na própria antagônica sorte do buraco negro que gira em torno de si, a morte.
Sim, a própria morte (aquela que dá vida ao sequencial), morreu.
Descredenciou-se da exatidão, da expectativa, da espera angustiada, e mesmo à ninguém fazendo mal, feneceu.
Na beleza do seu espelho de prata, sorriu em prantos. Foi-se aos tantos.
Caiu em si, forma calada, envergonhada (pensou na vida eterna), e não disse nada.
E assim aos passamentos constantes, foi-se passado o tempo,
do ignorado amor; quando em verdade - ao talvez do futuro,
beijou-lhe pra sempre, ciente, em finesse insistente,
num instante, a morte.
Há ciclos que 'ciclam'. Da vida tudo são circos...
OBS: homenagem aos 80 anos de Chico Buarque:
'João & Maria' (Chico Buarque)
https://www.youtube.com/watch?v=Fxu-pE74m5A
'Valsinha' (Chico Buarque)
https://www.youtube.com/watch?v=RhLJFYwutUs
'Desalento' (Chico Buarque)