Não quis voar com o voador de asa delta

Não confiei nele

Vi seu sobrevoo com o passageiro mascarado

Mesmo não conseguindo olhar para cima

O sol estava irradiando

Porém, não queimou suas asas como queimou as de Ícaro

O viajante atual dos ares tem o privilégio de dispor de materiais menos precários

Pousou na rua estreita e alvissareira

Mostrou para humanos sermos pássaros postiços também

Ninguém conseguiu me convencer a ver a paisagem de cima

Só me desprego dos pés na terra quando viajo de avião

Nem de embarcações aquáticas me sinto sem medo

Continuo a pôr a mão na boca

Ao ver quem desce voando da pedra da Gávea

Lá há montanhas, matos, ventos e o mar com sua imensidão de águas

Combinei com a visão para que só ela participe dessa maravilha

Dos outros sentidos só o tato por meio da pele sentindo a brisa do mar

E a audição ouvindo o farfalhar de suas ondas vindo bater na areia

Rodison Roberto Santos

São Paulo, 20 de setembro de 2023