A mentira diária de que isto faz algum sentido
Usando as mesmas palavras de sempre.
As mesmas ideias.
Os mesmos formatos.
As mesmas conclusões.
Os mesmos parágrafos.
Tudo como já aconteceu, levemente ajustado
Por vezes tão insignificantes,
Que sequer conseguirão notar.
A mentira diária de que isto faz algum sentido,
Que existe uma consciência que me enxerga,
Que opina, que aguarda, que requisita
Que acha esquisita a ausência
E a insuficiência na resposta;
Que também teoriza sobre estranhos,
Fala com as paredes como se tivessem ouvidos,
Adições diárias na lista de indeferidos,
Não merecedores das glórias do meu abrigo
Que não protegem a mim
Nem a ninguém.
Repetições do mesmo ciclo, ano após ano
Como quem vê o mesmo filme em reprise
E se pergunta como será o final desta vez.
Sem forças para trocar o canal, mas não faz mal -
O aconchego da inércia sempre me fez flutuar.
Um erro por natureza, estou ciente
O prazo de validade não permite trocas no balcão.
Mas não fará diferença, pois as prateleiras estão vazias
E eu não busco por uma segunda opção.
Uma pequena peça de um quebra cabeço infinito
Cuja ausência até pode ser vista
Caso aperte os olhos com lentes de aumento
E duas lupas, uma em cada mão;
No grande esquema das coisas sou apenas complemento dos arredores
Não o ponto focal da apresentação.
Não me restam palpites para o meio do caminho,
Mas carrego inúmeros sobre aonde ele vai acabar.
Veja,
Eu já pedi por observações mais vezes do que gostaria de admitir.
Pedi compreensão, mudança, avaliações
Mas nunca para quem me desse ouvidos,
Ou para quem pudesse me ouvir.
Contento-me com gritos vazios, sem direção
Ou com cochichos fartos,
Que chegam até mim mesmo em meio a multidão.
Fico feliz com a rotina cinza, sem vida
Pois se parece um pouco comigo
Em sua eterna repetição;
As mesmas palavras de sempre,
Os mesmos formatos.
As mesmas conclusões.
Os mesmos parágrafos.
Tudo como já aconteceu, um pouco ajustado
Para que não consigam notar,
Que mesmo tão insignificante,
Ainda me ponho a pensar:
Talvez eu seja maior do que penso,
Mas já desisti de acreditar
Em coisas que eu nunca vi
E provavelmente nunca irei enxergar.