Palavras novas não as tenho... Mas fica com essa história (meu amor)
Olha,
Não tenho palavras novas.
Mas um poema maluco
Chegou-me pela manhã.
Disse assim:
“escreve isso, te amo meu hortelã”.
Sorri, sorrimos.
Depois tomamos café,
E ele disse empolgado:
“já sei, escreve assim,
te amo meu alecrim procurado”.
Sorri de novo. Ele riu.
E voltamos ao pão com manteiga.
Ele me disse que era um peregrino secular.
Procurava palavras novas.
Disse que foi amigo de Foucault.
Perguntei-lhe sobre ele,
Ele nada declarou.
Apenas comentou: “ele era um gênio”!
Mas contou-me tudo sobre os gregos.
E sobre os poetas antigos.
E sobre os poetas do Arcadismo.
Ele me disse:
“você escreve bem”.
Disse-lhe amém e sorri. Sorrimos.
Esse poema andarilho
engraçado e brincalhão
deitou-se à vontade no chão.
Deitei-me também, aceitei seu convite.
Ele me tocou na mão
E pediu-me uma palavra.
Disse-lhe amor.
Ele disse: “eu sabia...
amor rima com alegria”. Falou sério.
Respondi que já sabia. E sorri.
Ele disse: “mas também rima
com agonia”.
Apontei que rimava também
com flor.
Ele acatou.
E lembrou que rimava
com calor.
Acenei que sim.
Depois de bastante tempo
combinando rimas à palavra amor,
ele pediu trégua sorrindo.
Pedi que passasse o dia comigo,
ele justificou muito trabalho
e me abraçou...
Tomamos nosso último café
em silencio.
E em dado momento disse sorrindo:
“Olha poetisa gosto muito de você.
Quando quiser pode me chamar.
E não se esqueça de agradecer
ao dom divino de poetizar
Isso é para compartilhar viu?
Como sei que tens feito.
Mas faça maior, faça mais,
uma palavra sã é direito de todos.
E os poetas são antenas para a vida.
convoque-os a todos”.
Abracei aquele poema tão bonito,
que se faz aparecer em nossa vida
quando a espera por palavras originais
tece de tédio os poemas novos.
Ele me deu um beijo e uma cesta
cheinha de letrinhas misturadas
para brincar de achar palavras novas.
Solineide Maria
2014