Meu verso cigano
Meu verso saiu por aí saltitando, não o contive mais,
ele se soltou de mim,
saí como uma mãe ou um pai correndo atrás de uma criança
que batia suas perninhas para o perigo,
porém meu verso não se deixou alcançar,
queria correr solto, cansei, suei, não o contive
Onde vai meu verso assim sem mim?
Ele foi livremente, entrou no vento e rodopiou sorridente
Lá foi meu verso, o perdi de vista
Só parou quando encontrou uns pés,
Ao se acoplar neles, estes sapatearam, bateram firmes no chão
Dançaram, fizeram barulho, chamaram a atenção para a dança
De súbito, de um verso surgiu outro, foi parar em outras pernas,
Essas com saias, rendadas, vermelhas, foram suspensas, também sapatearam
Foram para as mãos, tocaram castanholas, envolveram o corpo
A duplicação de meu verso estava no corpo de uma cigana que dançava
Tinha ido primeiro para os pés de um cigano e se dividiu lá em dois
Dos pés do cigano e da cigana saíram mais versos e foram para as vozes
Dos outros ciganos que cantaram, dançaram, pisaram, sapatearam, amaram.
Então meu verso voltou para mim todo serelepe como um filho que havia
Feito uma travessura e essa deixou alegre e feliz quem o queria conter antes
E olha que o verso veio para mim da voz de uma cantora sublime.
Rodison Roberto Santos
São Paulo, 30 de julho de 2022