Cura

Decidi permitir que no espaço onde fiz lágrimas

Houvesse cura apropriada à necessidade de meu rosto

Que sulcado pelo arado de minhas querências vacilantes

Vazava as possibilidades de carregar semblantes menos áridos

Aniquilava os músculos capazes de fazer sorrisos

E ostentava o berço de sua emoção paralisada

Então passei a aceitar que o sol já não se envolvia em nuvens

Que os passarinhos musicavam todas as tardes desprezadas

Os jardins planejavam o descanso de olhos finalmente secos

Fazendo sacudir com seu vento cada fio de meu cabelo semi-branco

Já não resistia a necessidade de dar fuga a alma

Aquele era o momento de beber as simples gentilezas

Do tempo paternal que resolvido a me abrigar ali

Mudou os sonhos, as certezas e os destinos

Bendito remédio que cessou minhas vontades

E de forma terapêutica pacificou minha existência

Hoje eu sou sensível às brisas anunciantes de silêncios

Aos recados pueris que a grama dá aos meus pés descalços

À resiliência barulhenta das ondas quando tenho mar

E assim eu vejo nítida a oportunidade de ser paz

É tão lindo! Tudo sintonizado e posto em seu devido lugar

Como ato da perfeição Divina a cobrir-me de alívios antes das noites solitárias

Por isso eu agora só posso ser encontrado nestas singularidades

Porque habito vaga-lumes, grilos e pequenezas

Pertencendo à rotina sinfônica de seres quase tão invisíveis quanto eu

Esta é a maravilha de ser parte de alguma coisa certa

Não viciar em espécie de seres que são ridiculamente iguais

Desfrutar belezas colhidas como pólen dos pedaços bucólicos que descobri ter

E aprender em tudo, ao final, que jamais devo preocupar ser importante

Preciso apenas me deixar ao redor do que não se pode conter

Como quem cativa uma forma de vida desprendida deste mundo

Arremessando-se em sobrevoo com liberdades que não lhe produzam violência

E não sejam sutilezas venenosas que destruam as suas chances de somente ser