Ansiedade
Por vezes, quando me ponho a refletir acerca do momento presente, ao lembrar que nele só há a vida, no seu fluxo inexorável, dou um passo para trás. Encarar a existência viva é sempre um desafio, pois nela não há roteiro a ser seguido. Os acontecimentos vêm e vão, cabendo a nós apenas a imersão no curso das possibilidades que se seguem. Não sei com certeza se, ao atravessar a rua, o carro parado no sinal vermelho continuará estático. Não sei se meu coração, até então saudável, há de atentar contra mim, como órgão traiçoeiro que é, levando-me a um óbito prematuro. Não sei com certeza, se o abismo está a um passo para frente ou centenas de quilômetros adiante. Não há nada certo, senão o fim de tudo, que por certo é o que acalenta os nervos ansiosos. Posso não saber quanto tempo me falta, mas sei que haverá um tempo em que não existirá sequer falta, tudo será nada. Então, respiro fundo e sigo, por mais avassalador e odioso que possa ser o destino futuro, o seu fim é inevitável.