Desenhos na chuva

Observo a chuva,

caindo mansamente,

em pequenas gotas,

escorrendo pelo vidro.

Formando desenhos,

nessa tela cinza,

tendo pano de fundo,

esse dia úmido de maio.

Desenhos de ruas,

cidades, cortiços.

Desenhos feios,

desenhos bonitos.

Como se houvesse,

uma mão invisível,

brincando de artista,

através do meu vidro.

Daqui de dentro,

observo a paisagem,

de frio concreto,

e asfalto sem fim.

E sinto saudades,

das garças do porto,

sentimento revolto,

que entorna de mim.

E a chuva, contínua, desenha,

da minha dor, displicente,

e eu, insisto na vida,

persisto, em ser gente.

E minha alma, insondável,

também desenha, dormente,

tentando ser boa artista,

nesse tempo, indiferente...

Maio de 2024