Alma minha

Eu a observo

Eu a vejo finalmente

Corpo pequeno, franzino, de criança sofrida, pés descalços na terra seca

Corpo que cabe em qualquer canto

De onde saltam olhos enormes

E lhe vejo, alma de criança

A que olhava a estrada escura pela janela do automóvel

Os olhos imensos aguçando a visão pelos fracos contornos das noites

Corpo pequeno de criança esquecida na guerra

Corpo que já não sente fome

Ou reivindica o que quer que seja

Tamanha a desproporção alma e corpo

Eu a observo

Sem querer que perceba

Que choro por ela, pela descoberta de vê -la,

E querer nutri-la

Eu a vejo, pequena, perdida de mim

Num sonho demorado e ruim

Quero desperta-la e partir

Desculpar - me pela demora

Criança, estou aqui

Yara do Vento
Enviado por Yara do Vento em 20/05/2024
Reeditado em 20/05/2024
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