Todo excesso esconde uma falta

Você, no meio dos dois extremos

Contemplando as decisões que te levaram até ali.

Perguntando se deveria participar, se deveria intervir;

Mas o pensamento traz o bocejo, e com ele vem a resposta

Tem muitos que não gostam,

E poucos dispostos a gostar.

Menos ainda são os que gostariam de ouvir,

Em menor número os que tentariam aprender;

Trocando ignorância por maldade

Saciando a intrínseca vontade

De se sobressair.

Gritos ao abismo que ecoam como pedidos de ajuda

À uma mente que não sabe o momento do próprio silêncio,

Ou os benefícios que são atrelados ao ato de abrir mão:

Deixar cair a importância que você carrega

Pelo emaranhado da própria opinião.

Com quantos paus se faz uma canoa?

''Por volta de trinta'' diriam os indígenas

''Já fiz três usando apenas um'' dirão os especialistas

Que nunca fizeram canoagem,

Cortaram uma árvore,

Ou chegaram perto de um rio.

Diriam eles

Que os espertos se esquentariam queimando o que há por perto

E que apenas os tolos morreriam de frio.

Mesmo que morem num país tropical,

Que sejam bem pouco acima do normal,

E vivam em constante arrepio.

Das ações, falar é a mais fácil

Seu nível mais básico sequer requer coesão.

O problema é ter o ego maior do que o cérebro

E este ser menor do que a própria mão.

Mão esta, aliás, que não conhece um calo

Que dê validade à qualquer afirmação

Que flui da sua boca com absoluta certeza

Escorrendo pela língua e pelas presas

Lentamente pingando no chão.

Por isso o silêncio é a melhor resposta

E a melhor postura é a abstenção;

Existem muitas faces dentro de mim

Para se contentar com a polarização.

Veja,

Eu vejo o certo no errado

E o errado no correto.

Sou capaz de sentir as coisas que estão longe

E as que já chegam mais perto.

Posso chorar na toada em que rio,

Ou cansar-me no melhor momento;

Eu não tenho certeza de nada,

Nem de mim,

Muito menos do que não entendo.

Posso acreditar em muitas coisas,

Desacreditar de outras na mesma medida;

Mas sou apenas uma criatura tola e isto me basta

Essa noção nunca me abrirá feridas;

Não é necessário saber de tudo:

Se errar matasse,

Já teria perdido a vida.

Cale-se.

Deixe que os peixes mordam a isca.

Assista enquanto se debatem

Até que se percam de vista.

Num oceano vasto,

Basta um anzol nefasto

Para que tenhamos uma vítima.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 17/05/2024
Código do texto: T8065067
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.