Estrela Cadente
Somos memória
dessa história
de sermos o fluxo do reflexo
do imensurável e do agora
do infinito, do tempo
que surge nas auroras
Somos inteiras
luzes pairando, asas douradas, brilhantes, reluzentes e encarnadas
no frio e na fome das madrugadas
como num salto, num sopro lá do alto
luz e simetria que animam o corpo boiando no raso
Somos a mansidão e o olho do furacão
filhas de tantos ninhos
que deixamos vazios
sem os nossos gatos pardos,
sem gaiolas ou passarinhos
Somos a solidão, a liberdade
e o doce-amargo da saudade
quando não existe mais a hora
e ainda demoras,
no infinito das tardes mornas
Onde choras,
se ainda estás aqui, no agora,
nas manhãs e nas nossas auroras?
Onde acordas,
enquanto não dormes no meu peito
nesse tempo que arde e dói e é quase desfeito,
quando o ar que inspiro parece rarefeito?
Onde moras, dentro de mim,
quando adormeces
e não estás mais no meu ventre,
mas ainda chegas reluzente
como um cometa, uma estrela cadente?