Cavaleiro de Gelo
Ando nessa armadura há tanto tempo,
que já sinto o aço misturado aos meus ossos,
sua forja moldando minhas articulações,
tornei-me um transformer de mim mesmo,
meu coração já não bate mais como antes,
congelou nos invernos da vida,
meu olhar sob a viseira é profundo,
há um oceano represado em mim,
histórias de longas navegações,
silêncios e gritos em duelos infinitos,
meus sorrisos imiscuem-se em lágrimas,
há uma bondade margeada por cinismo,
um quê de sarcasmo que fere para viver,
que corta como uma espada para se proteger,
sou esse ser de sonhos e pesadelos alternados,
transito na realidade amarga e na fantasia doce,
trago verdades e ilusões no estandarte familiar,
não salvarei damas em cavernas com dragões,
que salvem a si mesmas com outras escolhas,
não salvarei reinos em luta com invasores,
que salvem a si mesmos de contendas e façam a paz,
não salvarei povoados de feiticeiros a ceifar colheitas,
que salvem a si mesmos trabalhando em conjunto,
sou um cavaleiro andante em seu alazão de metal,
um fantasma congelando as noites sem estrelas,
um cavaleiro motorizado querendo novas temporadas,
um cavaleiro como Dom Quixote sem Sancho,
percorrendo vales e declives, montanhas e riachos,
entre tempestades e ventanias inesperadas,
tudo é tedioso em terras sem desafios motivadores,
quero descobrir novas aventuras que me cativem,
novos sentimentos que aqueçam meu coração,
sensibilidades que me tornem humano novamente...