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Não chegou a mim, em forma de afeto, o que é ter avós.

Não chegou a mim, em forma de afeto, o que é ter pais.

Não chegou a mim em forma de afeto o que é ter irmão.

E todos os tenho em minha vida.

Convívios.

Desconexo.

Existem, mas não fazem jus aos seus papéis.

Existem, estão lá, ali, por aqui...

Mas são corpos físicos que perambulam.

Não me apresentaram como é sentir seus abraços.

Fui criança que foi mãe, que foi filha, que foi irmã, que não foi filha, nem neta, mas uma pessoa que estava ali pra ser útil.

Fui adolescente que foi infantil, que tinha que ser adulta e sua existência não fazia sentido.

Fui adulta que não sabia o que era, pois não era mãe, mas tinha a mãe de ser, não era filha, e isso gerava culpa, não era neta, nem sobrinha, muito menos irmã.

Fui adulta, com as responsabilidades da criança de antes.

Fui a adulta que chorava antes de dormir.

Que queria um afeto mas encontrava uma taça de vinho por aí.

Que queria entender seu papel, mas isso lhe foi cortado.

Sou adulta, que sonha como criança, que quer viver como adolescente, que sente medo do envelhecer.

Entardecer,

E não ser ninguém!

Ponto Brune
Enviado por Ponto Brune em 27/04/2024
Código do texto: T8051022
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