Lama, musgo e nevoeiro
Não sou boa em nada
Nessa vida
Sempre ouvi
Mamãe dizendo:
Que nunca prestava pra nada
Que só fazia tudo errado.
Filha de homem mau
Sem caráter, sem doçura
Também seria
Eu má na vida
Sem serventia.
Cresci sem saber muita coisa
Aprendi o que me foi possível
Enquanto a maioria
Se firma com convicção
Com autoconfiança
Com certezas
Eu me deixo ir
Nas correntezas.
Certeza não tenho de quase tudo
Fui acostumada a ficar calada
O nó apertando a garganta
E eu sobrevivendo
Mal respirando
Como musgo grudado
Aos troncos
Aos trancos, aos tropeços
Como lama nas encostas
Dos barrancos
Palafita suspensa em nevoeiro.