UMA VISITA
De repente, chega a usurpadora
Uma síndrome de verdade
Indesejável, perturbadora
Invadiu minha intimidade .
Limita os meus passos
Prejudica a musculatura
Força o meu cansaço
Mexe com minha estrutura.
Dificulta minhas andanças
Apresenta caminhos com obstáculos
Multiplica as distâncias
Meu equilíbrio é digno de um espetáculo.
Embaraça minha visão
Cala a minha voz
Faz-me perder o chão
É uma invasora, vilã e algoz.
Boicota o meu paladar
Anula o meu olfato
Fadiga o meu pensar
Dia a dia me consome, é fato .
.
Perturba o meu cognitivo
Domina tudo, ou quase
Como um amor antigo
Faz-me tremer na base.
Bem sei do que se trata
É uma visita duradoura
Aos poucos minha vida ela mata
É uma forasteira opressora .
Essa síndrome tem um nome
De pensar já causa frisson
Não poupa, só consome
Trata-se de um tal Parkinson.
Me transformou num ser solitário
Esforço no meu otimismo
Nem sempre há solidários
Inevitável afastar o pessimismo.
A expressão está congelada
Do que fui, pouco existe
Uma fotografia modificada,
Um sorriso agora triste.
Então acredito, nunca estou só
Sempre estou comigo
Para ninguém eu rogo dó
Eu sou o meu melhor amigo.