Das coisas
Os verões que não voltam mais
Todas as folhas caídas no outono
O beijo gelado no rosto
A vida se passa num sopro
Páginas empoeiradas de um caderno
Um minuto sincero e eterno
Os olhares enamorados
Café preto bem amargo
Quintal cheio de mato
Sinto o cheiro de chuva
Unhas longas e vermelhas
Água ferve na chaleira
O presente já se foi
Sinto falta até do arroz
Remexido com feijão
Perfume amadeirado com notas de limão
O cabelo acobreado preso no grampo
No sofá de couro seguro o pranto
Falta um pedaço ou até dois
Coisas do agora e do depois
Queria te mostrar todos os versos
Mas não sei transpor os universos
Dente-de-leão na minha varanda
Eu ainda uso a blusa laranja
O sol que queima o meu rosto
Tira do universo todo o gosto
Bala de coco com açúcar
O espaço vazio traz a culpa
Eu trago de novo o alvorecer
Sei que me fizeste prometer
Nunca desistir, mesmo se doer