DESPIDO DE AMOR
Na calçada, na rua
Desprovido de tudo
Nenhum cobertor
Nenhum sobretudo.
Sua mente flutua
Seu ego entristece
Sem pai e sem mãe
O menino padece.
Pensa sobre a vida
Coração em pedaços
Descalço e com fome
Vagueia sem laços.
Não sabe onde ir
Não tem endereço
Alto preço paga
Por não ser de berço.
Sem perspectiva
Sem rumo e sem teto
A árvore é sua casa
Deus, seu arquiteto.
O banco da praça
Nem sempre é seu leito
Às vezes ocupado
O sono é desfeito.
Leva uma vida dura
Essa é sua sina
Vê tanta gente, mas
Ninguém se aproxima.
A má sorte e o medo
Chuvas finas, temporais
Isso tudo, o menino
Conhece demais.
Entre o dia e a noite
Para o pobre menino
Não há diferença
Segue o seu destino.
No sinal na avenida
Embaixo do viaduto
Sua presença marcante
Aos passantes é insulto.
Debaixo da árvore, às vezes
As folhas são agasalhos
Ásperas, úmidas e frias
Deita no orvalho.
Invisível aos olhos do mundo
Vida sem sabor
Assim cresce o menino
Despido de amor.
Vida calejada
Calos transparentes
Pois os duros calos
Estão em sua mente.
Pedindo uma esmola
Por toda a cidade
Não tem documento
Nem sabe a idade.
A indiferença
Lhe causa horrores
Ninguém vivencia
Suas grandes dores.
E segue na estrada
Sem se sentir gente
Se morrer não faz falta
É mais um indigente.