O farol.
Deslizam os navios, vindos longemente
Em lentidão desesperada, buscas
A costa nua igual água, tudo prata luado
Coisa só, a escuridão e a mente
O mundo perolado em negrume
E mil marinheiros gritando os silêncios
Sabendo os assobios da brisa, suave nauta
é quem guia os incautos dormentes — sonâmbulos
—, uma única chamada e se acende a torre:
eis o farol, redondante, deusando, olho em tudo,
faca a cortar a cabeleira negra; e todos em fascínio,
cada rosto alcançado, cada corpo em graça,
imediatices, vida, de certo, impercebida:
luz que vem e vai, morrendo e virando deus.
E todas as formiguinhas se voltaram para lá.
Mar é o vazio mais cheio de si; e os navios
desataram os fios da branda eternidade.
O mesmo que assobiou foi aquele que pulou,
desertor da insanidade, defunto movente,
deixou-se levar pelas ninfas do mar.
Enquanto todos partiam disparatados
A luz, em giro cada vez mais único, fazia dia
em noite apocalíptica. Vento que vem,
gente que sente, suor que escorre,
chuva perene. Explodiu-se a torre
e a erupção espalhou brilho e pedras
que atingiram todos os próximos.
O mar vermelho, os gritos de quem morre,
e o canto daquele quem sabe:
reflexo é lá, o que há é aqui;
quem vai em prol do farol
saberá ir às vias do Sol?