Giro referencial

Com a tempestade veio o alvorecer,

um olhar para um novo horizonte,

perceber que há perdas que devem ser,

que há destruições que reconstroem,

que há desesperos que evitam desastres,

há azares que nos salvam de nós mesmos,

há partidas que nos fazem bem depois,

que há enxurradas que cortam caminhos,

destroem pontes de destinos insuficientes,

a água lava o que nos aprisionou na lama,

a água que nos purifica dos preconceitos,

a água que torna transparente as pessoas,

a água que traz a vida onde só havia seca,

a água que alimenta uma alma profunda,

deixa o caminho livre para um novo porvir,

um futuro não pensado ou planejado,

uma nova nota na melodia do violão,

uma nova rima na composição da música,

uma ideia para a poesia que se descortina,

um giro referencial no rodopio da dança,

um bater de asas se lançando ao inusitado,

quando aprendemos não mais precisar,

quando aprendemos a não mais querer,

quando aprendemos a não mais esperar,

quando aprendemos a não mais amar,

talvez seja esse o sentimento de valor,

o que nos dá valor e nos diz quem somos,

o que nos fortalece a mente e o corpo,

o que nos faz sorrir depois do furacão,

porque ultrapassamos a escuridão deixada,

seguimos deixando atrás o que não faz parte,

deixando no passado o que jamais foi futuro...