sentimental
o que me sobra, senão os átomos que me compõe?
o que me sobra, senão as lágrimas que se escondem
dentro de mim?
no meu peito,
ou no meu jeito
de falar,
de andar,
ou de piscar os olhos
quando vejo um cachorro na rua,
pois sei de seu abandono
ranto quanto a certeza do crepúsculo.
o que me sobra, senão as palavras que ontem falei?
com tanta exatidão do que sentia, e hoje vejo
do outro lado do espelho
que mais uma vez me enganei.
o que me sobra, senão o gosto salgado das
memórias?
de quem um dia já fui,
de quem um dia quis ser,
de quem um dia conheci,
de quem um dia desejei ter.
são tantos corações batendo do outro lado
da porta,
são tantas razões escorrendo pelos olhos,
são tantas histórias que nunca conheceremos,
é tanto, mas tanto, tanto e tanto,
que hoje eu me permito ser
um pouco daquilo que ainda
não fui.