Velhice
Vi-me ante o espelho
Feição extenuada
Das ilustrações do tempo
Face engelhada
Sinto-me com as mãos
Palmas calejadas
Sobre a carne avelhantada, confesso
Meu corpo é senhor
Senhor de pés andejos
Guiados por esses olhos
Circunstantes de outrora
Doutros tempos, doutros dias
E sinto marcante
O cheiro de nostalgia
Repente lampejo de memória
Dos dias façanhosos, doutros nem tanto
E meus cabelos gris
Moldura da minha história
Cortina do meu pensar
Que já foi menino, desses arteiros
Hoje é, tão só, corpo puído
Sobre um andar tardeiro
Mas não reflete o meu espelho
Tão profundo assim
Lá onde minha alma salta
Vivaz em mim
Eu que fui, noutros tempos, formoso
Ainda sou aqui
Onde o tempo não alcança
A alma não envelhece
Transcende o tempo ligeiro
É eternamente criança