Velhice

Vi-me ante o espelho

Feição extenuada

Das ilustrações do tempo

Face engelhada

Sinto-me com as mãos

Palmas calejadas

Sobre a carne avelhantada, confesso

Meu corpo é senhor

Senhor de pés andejos

Guiados por esses olhos

Circunstantes de outrora

Doutros tempos, doutros dias

E sinto marcante

O cheiro de nostalgia

Repente lampejo de memória

Dos dias façanhosos, doutros nem tanto

E meus cabelos gris

Moldura da minha história

Cortina do meu pensar

Que já foi menino, desses arteiros

Hoje é, tão só, corpo puído

Sobre um andar tardeiro

Mas não reflete o meu espelho

Tão profundo assim

Lá onde minha alma salta

Vivaz em mim

Eu que fui, noutros tempos, formoso

Ainda sou aqui

Onde o tempo não alcança

Alma de poeta não envelhece

É, genuinamente, eterna criança.

Acarla
Enviado por Acarla em 15/02/2024
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