O TERCEIRO HÓSPEDE 17/18

O TERCEIRO HÓSPEDE XVII

“Porém da água se aproveite bem,

que é quanto lhe darei por seu peru.

Só você poderá ver-me a olho nu.”

“Se me encontrar parado aos pés da cama,

num copo uma só gota se derrama.

Encha depois com mais água também.”

“Pois quem bebê-la, logo sarará!

Mas veja bem onde está seu benefício:

nunca cobre, porque será um vício!...”

“Porém todos presentes lhe darão

e à porta de sua casa lhos trarão

e facilmente, você enriquecerá...”

“Mas de novo, se me achar à cabeceira,

diga logo à família, francamente,

que vão chamar o padre, prontamente,

Para que lhe administre a extrema-unção.

Não desperdice água, que esses vão,

bem certamente, à sua morada derradeira...”

O TERCEIRO HÓSPEDE XVIII

O seu Terceiro Hóspede partiu

e Macário até pensou ter sido um sonho.

Olhou os ossos do peru, tristonho...

Comera, realmente, só a metade?

Mas na barriga sentia saciedade

e os ossinhos na toalha ele reuniu.

Pois serviriam para engrossar a sopa.

Durante a tarde toda, cortou lenha,

pois come bem quem energia tenha.

Pôs na cabeça um feixe muito grosso,

sentia estar uns dez anos mais moço,

músculos fortes a lhe esticar a roupa...

Mas na viagem de volta, duvidava,

pensou até em beber aquela água,

pela metade do peru sentindo mágoa.

Mas era inverno e sua sede era pouca.

Chegando em casa, viu a esposa quase louca

e perguntou-lhe por que ela chorava...