Entorno
O dia cinza nasce no horizonte,
um misto de calor e abafamento,
barulhos urbanos no Carnaval,
em uma avenida adormecida,
caminho com os olhos sem rumo,
há tanto a se ver no nada, no vazio,
quando se tem olhos sensíveis,
cada folha caída tem uma história,
uma árvore retorcida tem sua raiz,
um paralelepípedo fora da calçada,
há um desencaixe na perfeição,
um concreto rachado por uma flor,
uma parede de tijolos sem reboco,
um canal vazado contra a correnteza,
tudo isso são fragmentos do entorno,
um redemoinho de coisas em nós,
um micro universo de incertezas,
somos todos tão pequenos e vãos,
tanta solidão em multidões cegas,
uma arrogância desmedida triste,
pacotes ausentes de sentido e valor,
atiramos uma pedra ao lago,
reverbera em ondas sincrônicas,
lei da ação e reação, é isso mesmo!
Sorvo meu café em movimento,
enquanto o tempo corre pelos dedos,
enquanto a terra rotaciona em si,
enquanto os pássaros migram,
perdemos o que interessa e seguimos,
ganhamos tão pouco e seguimos,
rabisco um papel com uma meia poesia,
e sigo porque tudo segue sem parar,
pouco importa a direção da bússola,
estamos todos presos nessa redoma,
então só nos resta aproveitar a viagem...