Segunda Mão

Na própria mão enxergo a vida, riscada

Pequena amostra do corpo etéreo, suada

Palma aberta para o mundo, enrugada

Tênue como fina linha, cruzada

Os dedos irregulares, aparentes

Ora contam dias, ora sonhos, segredos

Apontam estrelas, caminhos, defeitos

Distintas funções, complementares

Alguns calos, trabalho, percalços

Nas digitais, enxergo ainda quem sou

Nas unhas, vezes quebradas, garra

No toque, compreendo onde estou

Gestos sem palavras, linguagem corporal

Dos céus ao inferno, da prece ao desejo, mundana

Membro superior aos inferiores tremores, medo

Sabedoria que guardo no bolso, junto de meus afetos

Vida de segunda mão, usada, usufruída

As mãos dizem muito, dos outros, de mim

As mãos que me acompanham, desde o início

Entrelaçadas no peito, pesam e muito no fim.

Flavio Marcondes
Enviado por Flavio Marcondes em 04/02/2024
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