Segunda Mão
Na própria mão enxergo a vida, riscada
Pequena amostra do corpo etéreo, suada
Palma aberta para o mundo, enrugada
Tênue como fina linha, cruzada
Os dedos irregulares, aparentes
Ora contam dias, ora sonhos, segredos
Apontam estrelas, caminhos, defeitos
Distintas funções, complementares
Alguns calos, trabalho, percalços
Nas digitais, enxergo ainda quem sou
Nas unhas, vezes quebradas, garra
No toque, compreendo onde estou
Gestos sem palavras, linguagem corporal
Dos céus ao inferno, da prece ao desejo, mundana
Membro superior aos inferiores tremores, medo
Sabedoria que guardo no bolso, junto de meus afetos
Vida de segunda mão, usada, usufruída
As mãos dizem muito, dos outros, de mim
As mãos que me acompanham, desde o início
Entrelaçadas no peito, pesam e muito no fim.